Trump anuncia início de acordo de paz entre Israel e Hamas após dois anos de guerra
- gilbertosantosmarc
- 9 de out.
- 4 min de leitura
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump intermedeia acordo histórico entre Israel e Hamas com troca de reféns e retirada parcial de tropas. Plano proposto pelos EUA prevê libertação de reféns israelenses, saída militar de Gaza e administração internacional da região; Netanyahu e Hamas confirmam acerto e pressionam por garantias.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, fala com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante reunião na Casa Branca – Foto: Jim Watson – 8.out.25/AFP
Em um anúncio que pode redefinir os rumos da guerra em Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira (8) que Israel e o grupo Hamas aprovaram a primeira fase de um acordo de paz mediado por Washington. O plano, segundo ele, prevê a libertação de reféns israelenses e a retirada das forças de Tel Aviv até uma linha previamente negociada.
“Estou muito orgulhoso em anunciar que Israel e Hamas assinaram a primeira fase do nosso plano de paz”, escreveu Trump em sua rede Truth Social. “Isso significa que todos os reféns serão libertados em breve, e que Israel retirará suas tropas até uma linha combinada como primeiros passos em direção a uma paz forte, duradoura e permanente.”
O documento deverá ser formalizado nesta quinta-feira (9), no Egito, de acordo com fontes ligadas às negociações ouvidas pela AFP. Trump agradeceu o apoio de mediadores do Qatar, Egito e Turquia, e afirmou que a iniciativa é um marco sem precedentes no conflito.
Reações ao acordo
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, confirmou o acerto e anunciou que levará o plano ao governo israelense para aprovação. “Com a ajuda de Deus, traremos todos para casa”, declarou, chamando o plano de um “sucesso diplomático” e uma “vitória moral para o Estado de Israel”. Netanyahu também elogiou a liderança de Trump.
O Hamas, por sua vez, confirmou o acordo em comunicado oficial, mas pediu garantias internacionais para que Israel cumpra os termos pactuados. Segundo fontes próximas às negociações, o grupo deverá libertar 20 reféns vivos nesta primeira fase, em troca da soltura de cerca de 2.000 prisioneiros palestinos. Israel estima que ainda haja ao menos 28 reféns em Gaza — 26 deles com morte confirmada.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que todas as partes respeitem “plenamente” o plano de paz.
Bastidores e mediações
O acordo é resultado de negociações em Sharm el-Sheikh, no Egito, e foi antecedido por sinais de aproximação. Horas antes do anúncio oficial, o Hamas entregou uma lista com nomes de reféns e prisioneiros e demonstrou otimismo. O Exército de Israel, por sua vez, atribuiu o avanço a uma mudança de postura da comunidade internacional, que passou a pressionar mais o Hamas pela libertação dos sequestrados.
A Turquia, que anteriormente não era considerada mediadora por Israel, teve papel relevante nas tratativas, com a presença do chefe de inteligência, Ibrahim Kalin. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a paz depende também de concessões israelenses: “A paz não é um pássaro com uma única asa”, disse.
Participam ainda das negociações o genro de Trump, Jared Kushner, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair — que poderá integrar a administração internacional provisória de Gaza — e o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani.
Governança de Gaza ainda é incerta
Apesar do avanço diplomático, ainda não está claro quem governará Gaza após a retirada israelense. Países árabes esperam que o plano leve à criação de um Estado palestino, possibilidade rejeitada por Netanyahu. O premiê e seus aliados, incluindo Trump, excluem qualquer papel futuro para o Hamas, que controla a Faixa desde 2007.
O plano dos EUA prevê que um organismo internacional, liderado por Trump e com a participação de Blair, assuma a administração temporária de Gaza no pós-conflito.

Prédios destruídos e tendas improvisadas por palestinos deslocados na Cidade de Gaza – Foto: Rizek Abdeljawad – 1.set.25/Xinhua
Conflito segue ativo
Mesmo com o anúncio do acordo, ataques israelenses continuaram nesta quarta-feira, embora em menor intensidade. Segundo autoridades locais, ao menos oito palestinos morreram nas últimas 24 horas — o menor número desde a semana anterior.
A ofensiva israelense em Gaza, iniciada após o ataque de 7 de outubro de 2023 que deixou 1.200 mortos e 251 reféns em Israel, já causou mais de 67 mil mortes palestinas, segundo o Hamas. A ONU reconhece esses números como confiáveis e investiga possíveis crimes de guerra cometidos durante o conflito.
A crise humanitária se agravou com o bloqueio à ajuda internacional e o deslocamento de quase toda a população de Gaza. Investigações internacionais indicam que a ofensiva pode configurar genocídio, o que Israel nega.
Expectativa internacional
O chanceler russo, Serguei Lavrov, considerou o plano de Trump “a melhor proposta em discussão atualmente”, destacando sua aceitação entre países árabes e a ausência de rejeição por parte de Israel. A Rússia, envolvida em guerra com a Ucrânia, tem se aproximado diplomaticamente da gestão republicana nos EUA.
Trump, que cogita viajar ao Oriente Médio nos próximos dias, mantém expectativa de consolidar sua imagem como mediador global, em pleno ano eleitoral.
Comentários