BP faz maior descoberta de petróleo em 25 anos na costa do Brasil
- gilbertosantosmarc
- 11 de out.
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Gigante britânica encontra reserva promissora no pré-sal da Bacia de Santos e acende alerta geopolítico sobre interesses do Reino Unido no país.

Exploração no bloco Bumerangue é a maior descoberta da companhia em 25 anos e será avaliada quanto à viabilidade econômica e ambiental – Foto: Reprodução
A petroleira britânica BP anunciou uma das maiores descobertas de petróleo e gás natural de sua história recente — e ela foi feita em águas ultraprofundas da costa brasileira. O poço, localizado no bloco Bumerangue, na Bacia de Santos, está situado a cerca de 404 km do litoral do Rio de Janeiro e foi perfurado a mais de 5.800 metros de profundidade. A estimativa inicial aponta uma coluna de hidrocarbonetos de 500 metros em reservatório carbonático de alta qualidade, com potencial para figurar entre os maiores campos do pré-sal.
Com essa descoberta, considerada a mais relevante da BP nos últimos 25 anos, o Reino Unido acende seu radar para o Brasil. Ainda que o governo britânico não tenha formalizado vínculos diretos entre o achado e negociações diplomáticas, a movimentação reforça o interesse estratégico do país em estreitar laços com o governo Lula, mirando influência regional e possível aproximação com o Mercosul.
A BP detém 100% do bloco, sob contrato de produção compartilhada firmado em 2022 com a ANP. A empresa, que tem reorientado sua estratégia global para reforçar o setor de petróleo e gás, vê no Brasil uma oportunidade de longo prazo. No entanto, desafios técnicos como os elevados níveis de dióxido de carbono no reservatório podem exigir soluções tecnológicas complexas e de alto custo.
Ainda não há estimativas de volume recuperável, e o campo está em fase de avaliação. Mesmo assim, a descoberta já provoca reflexões sobre seus impactos econômicos, ambientais e políticos — tanto para o Brasil quanto para a geopolítica energética internacional.
O que se sabe
Descoberta de hidrocarbonetos em Bumerangue, no pré-salA BP anunciou, em 4 de agosto de 2025, uma descoberta significativa de petróleo e gás (“oil & gas discovery”) no bloco Bumerangue, na Bacia de Santos, aproximadamente 404 km da costa do Rio de Janeiro, em águas com cerca de 2.372 metros de profundidade.
Dimensões geológicas
O poço de exploração foi perfurado até cerca de 5.855 metros de profundidade total.
A coluna de hidrocarbonetos atravessada é estimada em ~500 metros de gross hydrocarbon column, em reservatório carbonático de alta qualidade do pré-sal.
A área estimada do reservatório é superior a 300 km².
Desafios detectados
Há níveis elevados de dióxido de carbono (CO₂) no reservatório, o que pode elevar os custos de operação, exigir tecnologia de mitigação, etc. bp global+2S&P Global+2
Ainda não foram divulgadas estimativas confiáveis de reservas (quantos barris/ gases recuperáveis), economia, etc. Análises de laboratório e avaliação adicional (“appraisal”) estão previstas.
Contexto estratégico da BP
A BP está redirecionando sua estratégia, reforçando investimentos em petróleo e gás (“upstream”), possivelmente como forma de recuperar valor para acionistas.
Este é o décimo achado de exploração da BP em 2025 até agora.
Propriedade do bloco
A BP detém 100% participação no bloco Bumerangue, sob um contrato de Produção Compartilhada (Production Sharing Contract, PSC).
A ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) concedeu o bloco em dezembro de 2022, no 1º Ciclo de Open Acreage de PSC, com termos considerados “comerciais favoráveis”.
O que ainda não está claro ou pendente
Quantidade recuperável de petróleo/gás: não há estimativas publicadas com precisão; não se sabe quanta parte dos hidrocarbonetos pode ser extraída com viabilidade econômica.
Custo real de extração: níveis de CO₂ elevados podem complicar, implicar em maior custo, exigência de tecnologias mais caras, possíveis impactos ambientais ou necessidade de captura/sequestro etc.
Tempo até produção: dependerá de aprovações regulatórias, análises de laboratório, “appraisal drilling”, infraestrutura, logística etc.
Parcerias ou distribuição de participação no bloco: por enquanto a BP tem 100%, mas é possível que busque parceiros, inclusive Petrobras foi cogitada como tal.
Possíveis interesses britânicos, implicações políticas e geoestratégicas
Com base nesses dados, e juntando com o que se conhece do histórico e das tendências globais, alguns interesses do Reino Unido / da BP, e algumas motivações que podem estar por trás de “estreitar laços” com o Brasil ou Mercosul, são:
Segurança energética e diversificação de fontesPara empresas como a BP, encontrar reservas de petróleo/gás em locais relativamente estáveis em termos político/regulatório é estratégico. O Brasil, com regime regulatório evoluído para o setor de petróleo, com leis de PSC, uma certa previsibilidade etc., pode representar uma alternativa ou complemento aos campos mais maduros ou de risco elevado.
Retorno para acionistas / valorização financeiraBP vem sob pressão dos acionistas para melhorar a rentabilidade, especialmente após períodos em que apostas em energias renováveis foram vistas como menos lucrativas ou mais arriscadas. Descobertas desse porte podem elevar expectativas de lucros ou de novas produções.
Influência geopolíticaTer presença em setores estratégicos (petróleo/gás) em países como o Brasil dá ao Reino Unido (e a companhias britânicas) maior peso nas negociações internacionais, cooperação energética, acordos comerciais etc. Também pode ser uma forma de acesso a mercados latino-americanos, cadeias de abastecimento, e influência sobre regulamentações ambientais e de energia.
Acordos comerciais, regulatórios e diplomáticosCom este tipo de descoberta, interesses do Reino Unido podem incluir garantir condições favoráveis de exportação, importação de equipamentos, parcerias tecnológicas, redução de barreiras, estabilidade regulatória etc. O Mercosul pode ser uma arena importante para isso: um bloco que, se estiver alinhado com o Brasil nessas questões, pode favorecer acordos de comércio, investimento, concessões, proteção legal etc.
Transição energética/compromissos climáticosHá um paradoxo: por um lado, o mundo está sob pressão crescente para reduzir emissões, descarbonizar; por outro, empresas de energia veem (e apostam) que haverá uma demanda de gás e petróleo por décadas. A BP, ao anunciar o achado, destacou os desafios do CO₂ encontrado. Isso sugere que fornecerá condições e estratégias para mitigar os impactos, ou que o campo pode custar mais para operar. Políticas ambientais brasileiras, regulamentos, royalties, exigências de compensação ambiental etc., vão entrar na equação.
Potencial impacto para o BrasilDo lado brasileiro, há varias implicações: receita (royalties, impostos), empregos, desenvolvimento do setor de petróleo, efeito sobre comércio exterior, influência no balanço energético, e o papel do pré-sal como ativo estratégico. Também dilema entre exploração de hidrocarbonetos e compromisso com metas climáticas.
Correções aos pontos da narrativa
A parte de “Londres quer estreitar laços com o governo Lula e garantir vantagens no Mercosul”: até o momento não há confirmação pública de que o governo britânico esteja fazendo política externa explicitamente orientada a “vincular” essa descoberta a negociações no Mercosul como parte de algum tratado específico, segundo as fontes que pesquisei.
“Garantir vantagens no Mercosul” parece mais especulação do que algo já formalizado. Já há, sim, interesses divulgados de comércio, investimento etc., mas nada que esteja vinculado diretamente à descoberta de Bumerangue, baseado no que se sabe até agora.
Conclusão provisória
A descoberta da BP no presal do Brasil é de grande importância técnica e estratégica, tanto para a empresa quanto para o país. Pode alterar o cenário de produção de petróleo/gás, trazer receitas, atrair investimentos, gerar impactos ambientais, entre outros. Ainda assim, muitas variáveis decisivas (volume recuperável real, custos, parcerias, regulação, impacto ambiental) ainda desconhecidas vão determinar o quanto essa descoberta se converterá em poder econômico ou político concreto.
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