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Mundurukus denunciam ‘venda da floresta’ e bloqueiam principal acesso da COP30 em Belém

  • gilbertosantosmarc
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura
Representantes da etnia Munduruku fizeram protesto nesta sexta-feira (14) no Pará, exigindo que o governo federal atenda demandas sobre demarcação de terras, cancelamento de hidrovias e cessar uso da imagem indígena como instrumento de propaganda ambiental.

Líder Munduruku cobra governo Lula durante protesto na COP30: “chega de usar nossa imagem para dizer que estamos bem” Os Munduruku protestam contra iniciativas do governo representam uma espécie de “venda da floresta”.


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O presidente brasileiro da COP30, André Correa do Lago, segura um bebê durante reunião com indígenas Munduruku, em 14 de novembro de 2025 – Foto: Adriano Machado/REUTERS. 


Em Belém (PA), na manhã desta sexta-feira (14), lideranças indígenas da etnia Munduruku ocuparam a entrada da chamada “Blue Zone” da conferência COP30 — a área restrita às delegações credenciadas. O bloqueio, iniciado por volta das 5h30, impediu a entrada e saída de autoridades e negociadores, forçando o governo e os organizadores a negociar com as lideranças.



A líder indígena Alessandra Munduruku afirmou em seu discurso que a mobilização visava “mostrar que não viemos para brincar” e repudiar o que chama de imagem pública manipulada de povos originários vinculada a políticas ambientais e de bioeconomia. Em suas palavras: “Já chega de usar nossa imagem para dizer que estamos bem. Nós não temos saúde, educação na nossa aldeia, nossos rios estão contaminados com mercúrio.”


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O presidente brasileiro da COP30, André Correa do Lago, se reúne com indígenas Munduruku que estão bloqueando o acesso à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Belém, Brasil, em 14 de novembro de 2025 – Foto: Adriano Machado/REUTERS.


As principais reivindicações são:


  • Revogação do Decreto nº 12.600/2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias com priorização dos rios Tapajós, Madeira e Tocantins.


  • Cancelamento de grandes empreendimentos de infraestrutura em seus territórios, como a chamada ferrovia “Ferrogrão”, que ligaria Mato Grosso ao Pará, e que as comunidades dizem que será implantada sem consulta adequada.


  • Garantia de consulta prévia, livre e informada conforme diretrizes da Convenção 169 da OIT, retirada de invasores e suspensão de projetos de crédito de carbono e REDD+ que as comunidades consideram formas de “venda da floresta”.


O protesto foi encerrado após diálogo com André Corrêa do Lago (presidente da COP30) e Ana Toni (diretora-executiva da COP30), por volta das 9h30, quando a entrada foi finalmente liberada.


Apesar da negociação, as lideranças reforçaram que aguardam uma resposta direta do Luiz Inácio Lula da Silva, que não estava em Belém no momento do protesto. “Se Lula é um presidente que fala com os maiores do Estado, precisa nos ouvir também”, disse Alessandra Munduruku.


Na avaliação de analistas, o protesto reflete uma insatisfação crescente das populações indígenas com políticas nacionais de desenvolvimento que alegam priorizar infraestrutura, agronegócio e transporte de cargas em detrimento da proteção de territórios tradicionais e de florestas tropicais — tema central da COP30.


Contexto adicional


  • A COP30, sediada em Belém de 10 a 21 de novembro de 2025, reúne representantes de mais de 190 países para debater mudanças climáticas, conservação ambiental e economia de baixo carbono.


  • O governo federal decretou a operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para a região entre os dias 2 e 23 de novembro, atendendo pedido do governo do Pará, para reforço de segurança durante a COP30.


  • A escolha de Belém como sede da COP30 é vista como símbolo para enfatizar a importância da Amazônia e das águas na agenda climática global — contudo, comunidades locais reivindicam que essa visibilidade vá além dos anúncios e resulte em concretas mudanças de política pública.


O protesto do povo Munduruku destaca que — apesar do foco global no papel da Amazônia como “pulmão do mundo” — — as comunidades que vivem nessas florestas exigem participação efetiva nas decisões, reconhecimento real de seus direitos e fim de projetos que consideram ameaças aos seus modos de vida. A COP30 passa assim de uma vitrine internacional para um palco de cobrança por justiça ambiental e social.

 
 
 

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©2020 por Gilberto Marçal. 

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